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Destaques

DEMONOLOGIA na visão dos ciganos

 DEMONOLOGIA na visão dos ciganos  Vamos abordar um assunto que até então estávamos deixando de fora, porque pensávamos que outros já o estudaram quase à exaustão. Porém, ao lermos estes tópicos no livro de Jean-Paul Clébert, in The Gypsies , constatamos que o tema citado era abordado antes, por outros, fracamente, superficialmente; decidimos por aqui, não nossa opinião, mas a de Clébert, porque ele é muito bom autor e deve ser considerado entre os melhores, em ciganologia. Ele, humildemente, pede licença, à página 145, para transcrever outro autor. Dr. Maxim Bing e nós fazemos o mesmo, portanto, o que se segue não é de nossa lavra, mas dos ciganólogos citados. Os erros e omissões ficam debitados a nossa dificuldade em traduzir castiçamente, para o português, a língua inglesa. Aos que quiserem conferir é só comprar o livro The Gypsies de Jean-Paul Clébert, Vista Books, London, 1973 e ler os títulos pertinentes. DEMONOLOGY (p. 145-147) Em tempos distantes, muito distantes, os ...

SOU DO TEMPO DO ATRASO...

 SOU DO TEMPO DO ATRASO...

Asséde Paiva





Segui a vida, em sofrimento atroz, desatando os nós.
Quem disse que és senhor do teu destino? Certo que não és.

Estimados leitores e leitoras! Nasci em 1934, portanto, no tempo do atraso, na região e povoado (Rosário de Minas). A escravidão terminara em 1888, mas ainda tínhamos em nossa companhia, digo na companhia de minha bisavó, Dona (ANA); Sebastiana, ex-escrava e um ex-escravo (Adrião), que preferiram ficar na fazenda a irem embora, sem destino, e sem comida nem trabalho, pois não tinham onde cair mortos. Recordo-me deles como luz que vai dissipando as sombras de um passado distante. Pois bem, sendo eu uma criança, lembro-me perfeitamente que engatinhava arrastando um sabugo de milho. Não sei quando me tornei plenamente bípede e passei a usar calça curta. A Fazenda (Velha), que morávamos, (de favor), pertencia a minha bisavó: Dona e era chamada fazenda do Morro Alto. Toda esburacada, onde o vento entrava na sala e saia na cozinha. Meu pai era diarista/roceiro, e trabalhava a dia para os fazendeiros da região, na enxada; portanto, era enchadachim, no vocabulário de Guimarães Rosa. À noite, papai capinava à luz do luar, a própria plantação. Isto não vi: me contaram. Nos feriados, sábados e domingos, papai trabalhava para si mesmo, como barbeiro, à noite e à luz de lampião de carbureto que emanava luz solar e cheiro bem bom. Certa feita, abri a mala de instrumentos de barbeiro do velho e peguei da navalha Solingem e cortei um gravetinho, com ela. Quando me viram, tomaram-me a navalha, deram-me palmadas e, um tio trabalhou o dia inteiro afiando-a para eliminar o dente que nela fiz. Foi um desastre a minha “arte”. Mais tarde, soube que papai era muito bravo e possivelmente bateria em mim, se não afiassem a peça a tempo. Digo que a navalha era alemã, portanto, de alta qualidade. Aliás, tudo no Brasil varonil vinha do estrangeiro: canivete, Corneta; machado, Collins; enxada, Jacaré. Só fabricávamos ferraduras e cravos. No tempo do atraso, não tínhamos brinquedos, nosso divertimento era fazer pequenos furos nos chuchus e neles inserir pimenta e jogá-los aos porcos que, após os comerem, saiam grunhindo desesperados pelo chiqueiro. Outro brinquedo nosso era perfurar gomos de bambu e fazer esguichos sobre uns e outros, com o repuxo. Brincávamos muito com sabugo de milho. No tempo do atraso, nossa casa, quase uma fazendinha velha, não tinha banheiros, nem privada, nem água encanada. A água nós a pegávamos na bica, e à noite, enchíamos uma tina de água onde todos nós bebíamos no mesmo coité. Satisfazíamos nossas necessidades fisiológicas no urinol, que, pela madrugada era levado pela ex-escrava, Sebastiana, que jogava fezes e urina no mato. Naquele tempo, o do atraso, não conhecíamos ninguém, não passeávamos, não íamos ao arraial de Rosário, éramos bichos do mato. Registro na memória que fui, uma só vez, assistir a um evento: As Missões, em Rosário. O missionário, padre Gabriel cantava conosco: “Jesus é meu, eu sou de Jesus, Jesus vai comigo, eu vou com Jesus.” Relembro que nossa luz noturna era a de lamparina abastecida com querosene.  Segurávamos a lamparina pela asa e a levávamos a cada cômodo, onde íamos deitar ou pegar algo. A luz era fantasmagórica, clareava só nosso entorno. No nosso tempo, o do atraso, matávamos piolho com pó de Jonas; ou, os catávamos com as mãos e passávamos o pente-fino o para tirar as lêndeas. No tempo do atraso, os nenéns eram enrolados em cueiros e ficavam duros como toco de pau; só mexiam os olhos. Morríamos com nó nas tripas (apendicite ou torção intestinal) e barriga d’água; as mulheres morriam com febre puerperal e resguardo quebrado. O tifo campeava. Tomávamos banho (uma vez por semana, à noite, só lavávamos os pés), numa bacia grande, de alumínio ou de cobre, onde nossa mãe colocava água morna esquentada na chaleira, em fogão a lenha. Na bacia, após água temperada, ficávamos brincando com sabão artesanal (ler adiante). Preciso falar de nossas roupas: Meninas, com vestidos de chita; o menino, taludo, vestia calça de brim. Andávamos descalços. Quando meu pai comprou tamancos, foi um avanço, mas levávamos tombos antológicos ao pastorear o gado, no sapezal. Daí, veio as alpargatas Rhodia, um grande avanço “tecnológico” para nós: adultos e crianças. Sapatos eram só para aqueles que tinham posses. 

Minha tia, Maria, casou-se com Crispim Ribeiro Oliveira, primo de minha mãe, Didi (Maria). Os recém-casados nada possuíam em bens materiais (pobres como Jó). Eles saíram de nossa casa/fazendinha com um balaio pequenino, onde minha mãe pôs uma toalha de presente e uma dúzia de ovos. Mais nada ganharam. Só voltei a ver tia Maria quando sua filha, primogênita, Celinha (Maria Célia) nasceu. Tempos difíceis, mesmo. No tempo do atraso, as estradas só davam passagem para um carro de bois. Quando dois carros se cruzavam, era muito complicado. Às vezes, um carro tinha de retroceder, para o outro passar e, se fosse numa “cava” (estrada entre barrancos), tudo ficaria muito dificultoso e, se de morro abaixo, mais problemático, ainda. Às vezes, havia que separar cada junta de bois e passar uma a uma pelo estreito caminho. 

Naquele tempo, o “velho” começou a sair do buraco (miséria mesmo), e principiou a comprar bezerros, depois vacas e, mais tarde, juntou algum dinheiro: tornou-se boiadeiro (comprador de gado para abate). Em minha casa, as camas eram feitas de pau mulato postos paralelos sobre ganchos e forquilhas. Os colchões eram de palha de milho desfiadas, e havia imensa quantidade de pulgas e percevejos a nos atormentar, a noite inteira. O carrapato estrela, em geral grandão, dava muito trabalho para arrancá-lo de nossa pele. Havia os famigerados bichos de pé, que eram pacientemente arrancados um a um, em nossos dedos. Tempos, tempos, que não trazem saudades. Havia as doenças tratadas na base da ignorância: Coqueluche (tosse), sarampo, tifo, crupe, rubéola, caxumba, cachorro-doido (raiva), em agosto. Picadas mortais de cobra-cascavel, cobra-coral, jararacuçu e outras. Tudo era curado com mezinhas. Inflamações, estrepadas, topadas saravam com a graça de Deus. Em toda casa, homeopatia imperava: (pulsatila, noz vômica, beladona, allium sativa, acônito etc.); da flora, havia açafrão, folha de laranjeira, com azeite, assa-peixe, funcho, boldo, picão, erva-cidreira, mané-turé etc. Torturava-se com cataplasmo: o famigerado emplastro de angu, azeite de mamona e mostarda (sinapismo), para curar pneumonia e carnegão. Havia o detestável lombrigueiro: a crença de que era necessário tomar o vermicida nos meses sem a letra "R", ou na lua minguante. E, se possível, juntando os dois momentos. Pode-se imaginar que muitos adotavam o método, sem qualquer comprovação científica e orientação profissional. Precisávamos tomar o remédio/vermífugo implacavelmente todos os anos, para nos proteger dos áscaris lumbricoides, e outros parasitas intestinais. Não posso esquecer da varíola/bexiga que enchia o indivíduo de caroços e, era quase sempre mortal. Para dor de cabeça, comprimido de Melhoral, que “é melhor e não faz mal”. Tratamentos repulsivos/invasivos, purgante de óleo rícino e cristeli/clister[1], para lavagem intestinal. Para crescer cabelo: Usava-se Óleo de Ovo Petrolovo, que mostrava, no rótulo, um careca entrando por um lado e saindo cabeludo do outro lado, do ovo. Emulsão de Scott, para deficiência de vitamina “D”. Regulador Xavier, para cólicas menstruais; para sarampo: Sal de Glauber e tampavam todas as frestas do quarto como se numa sauna e, bebíamos água morna. Não peguei o tempo de atraso das sangrias, sanguessugas, graças a Deus! Na verdade, não vivíamos sobrevivíamos aos tratamentos. Os dentes eram areados a carvão de lenha, e os cariados eram cuidados pelo dentista, prático; as raízes dos dentes eram mortas com ácido fênico. Sabão era feito em casa com: Dequada[2], sebo, torresmo e soda cáustica. Benzedeiras curavam com rezas e ensalmos, as torções, contusões e quebrantos “Que que eu benzo?” “Vento virado” (ventre virado), osso quebrado, nervo torcido, espinhela caída. Para tirar quebranto:  com Deus te botaram, com quatro eu tiro, dois de são João Batista, dois de Jesus Cristo.  Fulano de tal, assim como nasceste livre e são [sadio] desse olhado, quebrado os olhos malvados, assim vai-te para as ondas do mar. As mulheres cavalgavam em silhão[3]. SOBREVIVI para contar que naquele tempo o grande terror era pegar tuberculose, lepra/morfeia e bouba. O indivíduo era isolado ou mandado para o hospício, para morrer como indigente. Urina-doce (diabetes), também estigmatizava; os doentes sobreviviam com Sacarina. Com 50 anos o indivíduo era velho, quase um ancião. Aos oitenta ou mais anos, o velho era prodígio da natureza. Era comum a morte da parturiente e/ou do recém-nascido.

Continuando o blábláblá do “atraso”: do alpendre da Fazenda Velha, víamos a estrada estreita que só dava passagem para um carro de bois, tropas de burros e seus tropeiros e, para cavaleiro e pedestres. Debruçados na janela, víamos o pessoal passar pela ponte coberta em direção ao arraial de Rosário ou inversamente, em direção a Penido ou Valadares; povoados e paradas do trem MJ[4].  Ambos povoados pertenciam ao Distrito de Rosário.  Em Rosário havia três autoridades: O vigário, o escrivão e o subdelegado (este posto foi de meu avô durante anos, até que foi defenestrado pelo sobrinho Helvécio). Nós somente íamos assistir às festas religiosas, ficávamos em casa o tempo todo. Nossa alimentação era pobre em proteínas: comíamos carne de porco ou de galinha ou de alguma caça: paca, tatu e capivara, de vez em quando. O dia a dia era feijão com arroz e angu. No pomar havia muitos pés de laranjeiras e de pêssegos que comíamos nas estações próprias. No arraial, na festa anual de Nossa Senhora do Rosário, indicavam uma pessoa (Fabriqueiro) para organizar o festejo: chamar o padre, contratar a banda de música e o fogueteiro. Este último trazia além dos foguetes as bombas chamadas cabeças de negro que, ao explodirem, pareciam tiros de canhão. Nossa vida na roça era uma pasmaceira: os dias se repetiam em uma rotina enfadonha, mas como éramos crianças não ligávamos para isto. Deu-se a crise: meu pai desentendeu-se com outro morador de nome João Q***, que prometeu matá-lo. De fato, em noite de lua cheia, ele invadiu nossa casa, mas papai o esperava e deu-lhe uma coça de pau-mulato que o deixou quebrado meses. Para fugir da pendenga, mudamos para outro povoado: Paula Lima. Pela primeira vez, vimos um automóvel, chamado por nós, baratinha, não sei porque razão. Também, pela primeira vez assistimos a um desfile de Carnaval e os bizarros sons da cuíca:  ici-uc, ici-uc, ici-uc.  Para nós, foi um terror ao ver os mascarados. Éramos, de fato, muito atrasados: capiaus, matutos, caipiras do pé-grande. Em Paula Lima, moramos pouco tempo, numa casa empestada; assim, perdi quatro irmãos em um ou dois meses: Margarida, Aparecida, Nesclaro e Israel. Aí, bateu o desespero familiar e mudamos para o povoado de Chapéu D’Uvas. Lá ficamos 12 anos, mais ou menos felizes. Mas o diabo entrou em nossa vida mais uma vez. Um indivíduo, mequetrefe, invejoso, ofereceu mais dinheiro ao proprietário do sítio Azevedo, que meu pai alugara de Zé Tenente. Houve bate-boca e “seu João”, o infeliz, desafiou: “Se você quer o sítio, compre as minhas vacas!” e deu o valor chocante de 120:000$000 (cento e vinte contos de réis). Trazendo e atualizando este valor para nossos dias, fica próximo de um milhão e duzentos mil reais. Era muito dinheiro para a época, porém, o concorrente se virou com agiotas e recursos próprios e comprou as vacas. Daí, quem endoideceu foi papai, que se julgando rico, nunca mais trabalhou: passou a jogar, viajar e se divertir com mulheres de vida fácil/prostitutas. E o dinheiro diminuindo, esfumaçou, pulverizou, derreteu. Eu, irmãs e minha mãe sustentamos papai até o fim. RIP. Sou do tempo do atraso e é verdade verdadeira, sim. Naquele tempo, já morando em Chapéu D’Uvas só havia um trem de passageiros por dia: pela manhã, indo para Juiz de Fora; e, à tarde, vindo de lá. Se perdêssemos o trem, havíamos que dormir na cidade e voltar noutro dia. Acontece que não tínhamos dinheiro para pagar a pensão, então, algum parente nos dava o pernoite.

E os remédios daquele tempo: além da homeopatia, já citada, tomávamos regularmente Óleo de Fígado de Bacalhau, Linimento de Sloan e pílulas anti-helmínticas, para matar nematelmintos; Rum Creosotado[5] e pílulas do doutor Ross, com o jingle: Pílulas de vida do doutor Ross, faz bem ao fígado de todos nós; ou, saúde e alegria para todos nós!  

Quando crianças, jamais ganhamos presentes de aniversário ou de Natal, o que nos deixava tristes e sentindo inferiores às demais crianças, abastadas. A doença terrível da época era a poliomielite. A gente fugia dela e do doente como o diabo da cruz. Não havia e acho que ainda não há remédio para a pólio. Há que se vacinar contra ela. Na venda/armazém só comprávamos sal.

Demorávamos quase quatro dias para ir e vir da fazendinha, São Mateus, de vovô Chiquinho de Almeida, subdelegado, preguiçoso, bon vivant, em Rosário. Hoje, de carro, vamos em pouco mais de uma hora.

Com a devida vênia, faço minhas as palavras da doce amiga e conterrânea Graça Tavares:


Amigo amado: suas lembranças acordaram-me vivências passadas na fazenda Sesmaria. Também eu sofri com piolho/ pente fino, bicho de pé e o horrível chá de Mané turé! Vai amargar assim lá nos quintos dos infernos! Nos dias de chuva/ relâmpagos não se podia abrir torneira ou pegar qualquer objeto metálico. Durante o período da Quaresma, todas imagens de santos deveriam ser cobertas com um pano roxo. Não se comia carne às sextas-feiras e jejum nos demais dias (sem sobremesa ou cardápio mais refinado. E na sexta--feira da Paixão, todo o leite ordenhado na fazenda era doado aos vizinhos e empregados. Muitas (exagero) algumas [pessoas] chegavam com várias vasilhas para pegar o máximo possível! O leite que sobrava da doação virava doce de leite, feito no tacho de cobre, que mexíamos com entusiasmo, mas fugindo das explosões do leite fervido, no fogão de lenha. Brigávamos para rapar o tacho, depois do doce pronto, Nossas obrigações/castigos: tirar as palhas do milho, debulhar, antes de mandar para o moinho; fazer manteiga! (Não existia batedeira nem liquidificador). Ficávamos mexendo a nata/espuma do leite, até dar o ponto necessário para manteiga! Putisgrila! Haja braço! Isto sem falar nos alhos que deveriam ser descascados e espremidos. Como nem todas as galinhas desovavam no galinheiro, quando alguma delas cantava, tinha que localizar o local, recolher o ovo para consumo ou ser chocado. Quando a árvore paineira florescia, (tínhamos 4 árvores ao redor do curral), tínhamos que colher a paina e preparar para fazer travesseiros.

Aqui termina o testemunho de Graça Tavares.


Os doentes “da cabeça” eram chamados loucos, malucos, aluados, alienados, birutas etc. O bipolar, o esquizofrênico, o portador da Síndrome de Down, o epilético, o autista, quase sempre denominados “possessos”, ficavam escondidos das visitas atrás das portas ou nos quartos. Na minha família houve um caso de “possessão diabólica”. Minha mãe contava a história para nós, reunidos em volta do fogão de lenha ou ao lusco-fusco de uma lamparina de querosene. Mais tarde, resolvi pôr a história no papel: Registrei minhas lembranças e procurei parentes. Tia Maria (casada com Agostinho Almeida), deu-me pito/puxão de orelha, pedindo-me que esquecesse o caso. Não obedeci e continuei a pesquisar e escrevi o livro POSSESSÃO, Editora Ícone, que hoje é vendido a preço vil nos “sebos”.

Na verdade, só se buscava médico, na cidade grande, em casos excepcionais: quando fitoterapia/ervas, mezinhas, sangrias, e benzeduras não surtiam os efeitos esperados. 

Não fabricávamos nada, nem havia boas estradas, nem hidroelétricas. Getúlio Vargas decretou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em maio de 1943, tirando o trabalhador da escravidão de fato. Ele criou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 9 de abril de 1941, alavancou nosso progresso. Naveguei em águas cristalinas ao ser admitido na CSN. O grande salto: 50 (cinquenta) anos em cinco 5 (cinco) foi dado pelo Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Isto é outra história que escrevi, em JK.

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Poema de um sandeu:

Sou do tempo do atraso, do colchão de palha, e a enxada, extensão do braço, a vida no tempo embaraça.

Sou do tempo sem brinquedo, do milho fazia carrinho, do chuchu virando enredo, e dos porcos em desalinho.

Sou do tempo do atraso, da casa esburacada, onde o vento entrava e vazava; do urinol na madrugada, da lamparina apagada.

Sou do tempo da doença curada com reza e planta; do terror da febre imensa, e da morte que espanta.

Sou do tempo da estrada estreita, onde bois cruzavam lentos; e do pai de alma imperfeita, que se perdeu aos quatro ventos.

Sou do tempo da miséria; da bacia para o banho, da fome como matéria, e do dia sempre estranho.

Sou do tempo do atraso, mas trago em mim a lembrança, que entre a dor, suor e cansaço, florescia a esperança.

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Notas:

1- O clister, enema ou chuca, é um procedimento que consiste na colocação de um pequeno tubo pelo ânus, no qual é introduzida água ou alguma outra substância com o objetivo de lavar o intestino, sendo normalmente indicado nos casos de prisão de ventre, para aliviar o desconforto e facilitar a saída das fezes.

2- Água que infiltra na cinza. Enche-se um saco de aniagem ou um balaio, de cinzas, colocando-o sobre um suporte com um vasilhame embaixo. Na parte superior, abaulada, côncava põe-se água que lentamente, se infiltra nas cinzas, produzindo-se um líquido de cor de vinho tinto, isto é, a dequada (de coada), usada para cortar gordura e fazer o sabão.

3- Sela grande com estribo de um só lado e um arção semicircular, a cultura do tempo não permita que abrissem as penas para monta no arreio.

4- Sobre a sigla MJ: Inicialmente, o trem ia somente até Penido e, posteriormente, resolveu-se ampliar a linha férrea até Lima Duarte, mas isso foi feito em duas etapas: Primeiro até Manejo (MJ), onde passou a ser estação final por algum tempo e, em seguida, até Lima Duarte. Esse é o motivo do trem passar a ser chamado de MJ (Manejo), por um determinado tempo, pois a localidade foi a estação final até a conclusão do último trecho.

5- “Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado. E, no entanto, acredite, quase morreu de bronquite. Salvou-o o Rhum Creosotado”.


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