Pular para o conteúdo principal

Destaques

DEMONOLOGIA na visão dos ciganos

 DEMONOLOGIA na visão dos ciganos  Vamos abordar um assunto que até então estávamos deixando de fora, porque pensávamos que outros já o estudaram quase à exaustão. Porém, ao lermos estes tópicos no livro de Jean-Paul Clébert, in The Gypsies , constatamos que o tema citado era abordado antes, por outros, fracamente, superficialmente; decidimos por aqui, não nossa opinião, mas a de Clébert, porque ele é muito bom autor e deve ser considerado entre os melhores, em ciganologia. Ele, humildemente, pede licença, à página 145, para transcrever outro autor. Dr. Maxim Bing e nós fazemos o mesmo, portanto, o que se segue não é de nossa lavra, mas dos ciganólogos citados. Os erros e omissões ficam debitados a nossa dificuldade em traduzir castiçamente, para o português, a língua inglesa. Aos que quiserem conferir é só comprar o livro The Gypsies de Jean-Paul Clébert, Vista Books, London, 1973 e ler os títulos pertinentes. DEMONOLOGY (p. 145-147) Em tempos distantes, muito distantes, os ...

QUEM NASCEU PRIMEIRO: O OVO OU A GALINHA OU QUALQUER BICHO QUE BOTA OVO?

QUEM NASCEU PRIMEIRO: O OVO OU A GALINHA OU QUALQUER BICHO QUE BOTA OVO?


Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. (Clarice Lispector)

Asséde Paiva




Revirando na cama após noite de insônia, ocorreu-me uma questão que tem azucrinado pensadores brilhantes, psicólogos, médicos, filósofos literatos, biólogos, zoólogos, historiadores, bioquímicos; enfim, profissionais em todos os ramos: Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha? Desconheço qualquer trabalho ou tese de mestrado/doutorado a respeito de tão transcendental tema, portanto, vou remexer minhas lembranças, e pesquisar na Internet à procura de luzes para deslindar este espinhoso dilema. 

Ainda esta semana, o jornal o Globo publicou foto de um ovo com cria de dinossauro, no seu interior. O ovo fotografado tem 65 milhões de anos. Assim, smj o problema foi solucionado: o dinossauro veio primeiro e pôs um ovo, que gerou o filhotinho. Mas, a pergunta sobrevive: De onde veio o primeiro dinossauro? Que botou o primeiro ovo? 

Diz uma lenda (ou está provado?) que o Universo foi o resultado de uma grande explosão o famoso big bang! Correto? Sim. Não fiquemos procurando pelo em ovo, a questão está pendente.


Vamos citar alguns provérbios e fraseologia coerentes com o tema: 

O ganso do vizinho é mais gordo do que o nosso; 

É impossível fazer omelete sem quebrar os ovos; 

A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo. (Millôr Fernandes);

A Terra tem a forma ovoide;

Ab ovo –– desde o princípio;

O mundo é um ovo; 

A galinha dos ovos de ouro (conto da carochinha);

Enganou o bobo na casca do ovo; 

Tá de ovo virado/atravessado –– indivíduo muito aborrecido, zangado, irritado; 

Baba-ovo –– puxa-saco;

Nunca ponha todos os ovos na mesma cesta (conselho para diversificar);

Saído da casca do ovo –– recém-nascido ou inexperiente;

Pisar em ovos –– andar de mansinho;

No frigir dos ovos –– no final das contas;

Fazer ovos –– esconder;

Contar com ovo no cu da galinha;

Pobre do povo que deixa sua “galinha dos ovos de ouro” ser cuidada por bandidos (Josemar Bosi);

Dar ovada em alguém –– ofensa grave e, a história não registra galinhada em quem quer que seja; só no dicionário lemos que é iguaria preparada com arroz, frango desfiado, cenoura, ervilha (Houaiss);

Todos os galos que hoje cantam, ainda ontem eram ovos. (Na Internet)


Sobre gansos, galinhas e outros (as): 


De pato a ganso é pequeno avanço; 

Quando o ganso mergulha traz o trigo para o filho; 

Tomou um ganso e perdeu o avanço; 

Afogou o ganso e caiu no descanso;

Se tens um ganso fica no descanso; 

Ganso vigiando sossego conservando; 

Comer ganso e arrotar pato. 


Frase de caminhoneiro: “Sou pela ecologia, mas adoro afogar o ganso”. 

Quanto à galinha citamos esta quadra:

Se há posturas de galinha,  

há também municipais;  

aquelas produzem ovos,  

estas, sono e nada mais. 

(Mauro Motta) 


Exemplário de frases sobre galinha:

 Cocô de galinha –– coisa ou pessoa reles, sem importância;

A galinha foi a melhor forma que o ovo encontrou para reproduzir-se (Richard Dawkins)

De grão em grão a galinha enche o papo;

Galinha morta –– muito barato;

Cheio de pés de galinha –– envelhecido, enrugado;

Todos os dias galinha, enfastia a cozinha;

Não há paz onde cante a galinha e cale o galo;

Galinha velha é que dá bom caldo;

Galinha gorda não precisa de tempero; 

Galinha preta põe ovo branco (não avalie pelo frasco, sim pelo conteúdo); 

A galinha que segue o pato morre afogada;

Moça galinha –– namoradeira, volúvel;

Quando as galinhas tiverem dentes –– nunca;

Da minha galinha, a postura é minha.


O mestre Luís da Câmara Cascudo no seu Dicionário do Folclore Brasileiro se nos apresenta no verbete GALINHA extensas considerações. Vamos transcrever as mais interessantes: 

“... a China conheceu-a séculos antes de Cristo; foi domesticada na Birmânia; entrou na Grécia nos tempos socráticos. [....]; parece pacata, mas não é ... pode dar nascimento ao pior bicho do mundo: ao basilisco, espécie de lagarto que mata pelo olhar como Catoblepas1. Se ele é avistado primeiro por um homem morre fulminado. A galinha que passa sete anos sem pôr é a mãe do basilisco... quando ela começa a cantar como o galo é porque está atraindo a morte para a casa dos amos. Diziam os sertanejos que: 

Moça que assobia / galinha que canta / faca na garganta //.

As cólicas do parto são evitadas se a parturiente tomar caldo de galinha preta. Quando as galinhas assustam: boas notícias (ou cobra à vista). A sinonímia compreende a mulher fácil e o homem pusilânime ou pederasta. O barão de Studart coligiu algumas superstições: Comer galinha arrepiada faz cessar as dores uterinas; passar na garganta o sangue do pé de galinha preta, cura angina; excremento de galinha em dentada de gente faz cair os dentes do mordedor; galinha brigando é anúncio de visita de mulher; excremento de galinha nas espinhas faz secá-las e caírem sem deixar sinal”. (Ver op. Cit. pp 338-9, INL. 1962.

Ovo na Bíblia:

Qual pai, do meio de vocês, se o filho pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!

(Lucas 11:11-13).


O homem que obtém riquezas  

por meios injustos  

é como a perdiz  

que choca ovos que não pôs.  

Quando a metade da sua vida tiver passado,  

elas o abandonarão, 

 e, no final, ele se revelará um tolo.  

(Jeremias 17:11)


Chocam ovos de cobra  

e tecem teias de aranha.  

Quem comer seus ovos morre,  

e de um ovo esmagado sai uma víbora.

(Isaías 59:5)


Pois é, junto com "de onde viemos e para onde vamos?", a pergunta "quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?" é um dos grandes mistérios da humanidade. Apesar de o senso comum dizer que o ovo veio primeiro, há cientistas que afirmam que foi a galinha que surgiu antes de botar o ovo. Pela teoria da evolução de Charles Darwin, uma espécie evolui de outra, mais primitiva. As aves, galinhas inclusive, vieram dos dinossauros, que já colocavam ovos. Os animais cujo embrião se desenvolve dentro de um ovo são chamados de ovíparos - no grupo também estão os peixes, anfíbios, répteis, monotremados, insetos, moluscos e aracnídeos [....]. Na Internet.


Citamos a pergunta mais famosa sobre o ovo, feita por Cristóvão Colombo aos seus detratores: 

Quem pode pôr um ovo em pé? 

Todos presentes tentaram, porém, não conseguiram. Então, ele pegou o ovo bateu sua ponta sobre a mesa, quebrando a casca, assim, mantendo-o em pé.

 “Assim é fácil!” –– disseram os oponentes. 

“Pois é” –– ripostou Colombo: –– “Depois que eu o fiz”.


A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer precisa destruir um mundo. (Hermann Hesse).


Está na Internet: Segundo o livro "O Desaparecimento do Universo", de Gary R. Renard, os dois foram criados simultaneamente, junto com todo o resto do universo. Dentro da ilusão (maya), eles parecem ser separados, ainda que não sejam


E confesso que estou mais perdido/confuso do que cego em tiroteio. Termino a demanda dizendo que não achei a resposta para quem nasceu primeiro: se o ovo ou a galinha. Apelo para o Livro dos livros versículo 25: 

1:25-21

Assim Deus criou os gran­des animais aquáti­cos e os demais seres vivos que povoam as á­guas, de acor­do com as suas espécies; e todas as aves, de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom.

1:25-28

Deus fez os animais sel­vagens de acordo com as suas espé­cies, os reba­nhos domésticos de acor­do com as suas espécies, e os demais seres vivos da terra de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom.


Ovo na mitologia:

Por último, e não menos importante citamos os ciganos que dizem que o Universo foi criado após a eclosão de ovo mitológico posto por uma gansa.


Poema do ovo


Ao olho mostra a integridade

de uma coisa num bloco, um ovo.

Numa só matéria, unitária, 

maciçamente ovo, num todo.


Sem possuir um dentro e um fora, 

tal como as pedras, sem miolo:

é só miolo: o dentro e o fora

integralmente no contorno.


No entanto, se ao olho se mostra

unânime em si mesmo, um ovo, 

a mão que o sopesa descobre 

que nele há algo suspeitoso:


que seu peso não é o das pedras,

inanimado, frio, goro;

que o seu é um peso morno, túmido,

um peso que é vivo e não morto.

II

O ovo revela o acabamento

a toda mão que o acaricia,

daquelas coisas torneadas

num trabalho de toda a vida.


E que se encontra também noutras 

Que, entretanto, mão não fabrica:

nos corais, nos seixos rolados

e em tantas coisas esculpidas


cujas formas simples são obra 

de mil inacabáveis lixas

usadas por mãos escultoras

escondidas na água, na brisa.


No entretanto, o ovo, e apesar 

de pura forma concluída, 

não se situa no final:

está no ponto de partida.

III

A presença de qualquer ovo, 

até se a mão não lhe faz nada, 

possui o dom de provocar

certa reserva em qualquer sala.


O que é difícil de entender

se se pensa na forma clara

que tem um ovo, e na franqueza

de sua parede caiada. 


A reserva que um ovo inspira

é de espécie bastante rara:

é a que se sente ante um revólver

e não se sente ante uma bala.


É a que se sente ante essas coisas

que conservando outras guardadas

ameaçam mais com disparar

do que com a coisa que disparam.

IV

Na manipulação de um ovo

um ritual sempre se observa:

há um jeito recolhido e meio

religioso em quem o leva.


Se pode pretender que o jeito

de quem qualquer ovo carrega

vem da atenção normal de quem 

conduz uma coisa repleta.


O ovo, porém, está fechado

em sua arquitetura hermética

e quem o carrega, sabendo-o,


prossegue na atitude regra:


procede ainda da maneira

entre medrosa e circunspeta,

quase beata, de quem tem 

nas mãos a chama de uma vela. 


(João Cabral de Mello Filho)




Uma galinha

Clarice Lispector


Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro voo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado. Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre. Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma. Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, só levava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal, porém, conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos: — Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem! Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão: — Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida! — Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros. Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele estado!” A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos. Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos. IN: LISPECTOR, Clarice. Laços de família: contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, pág. 33-


Comentários

Mais lidas