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DEMONOLOGIA na visão dos ciganos

 DEMONOLOGIA na visão dos ciganos  Vamos abordar um assunto que até então estávamos deixando de fora, porque pensávamos que outros já o estudaram quase à exaustão. Porém, ao lermos estes tópicos no livro de Jean-Paul Clébert, in The Gypsies , constatamos que o tema citado era abordado antes, por outros, fracamente, superficialmente; decidimos por aqui, não nossa opinião, mas a de Clébert, porque ele é muito bom autor e deve ser considerado entre os melhores, em ciganologia. Ele, humildemente, pede licença, à página 145, para transcrever outro autor. Dr. Maxim Bing e nós fazemos o mesmo, portanto, o que se segue não é de nossa lavra, mas dos ciganólogos citados. Os erros e omissões ficam debitados a nossa dificuldade em traduzir castiçamente, para o português, a língua inglesa. Aos que quiserem conferir é só comprar o livro The Gypsies de Jean-Paul Clébert, Vista Books, London, 1973 e ler os títulos pertinentes. DEMONOLOGY (p. 145-147) Em tempos distantes, muito distantes, os ...

O VISITANTE DA ESTRELA

 O VISITANTE DA ESTRELA


De como transformar a dor em saudade


’Stamos no Empíreo...


Deus chamou seus anjos para lhes designar as missões do dia. Todos esperavam, todos temiam. 

––Filhos meus, vamos escolher os que irão a Terra formar novos seres, para minha sempre eterna grandeza e pela evidência do meu poder criador.

Os anjinhos ficaram tensos, esperando mais esclarecimentos: “Para aonde iriam? Que país habitariam? Seriam felizes como no céu?” 

Ficar no céu era muito bom. As decisões de Deus não são discutíveis, tão-somente cumpridas: Deus dá, Deus tira.... Os anjinhos formavam aquele coro angelical em alegres solfejos e gorjeios, entoando salmos e cânticos em louvores ao Altíssimo. Estavam muito bem assim, e bem também quando eram estrelas espalhadas pelo firmamento luzindo, piscando, piscando... Sempre temiam o momento da partida para o impensável, imprevisível e desconhecido. Mas todos os dias, eles tinham que ouvir novas ordens e cumpri-las. Assim tinha que ser, assim era a Lei: ir e voltar e tornar a ir; algum dia tornar-se-iam luz.

E Deus apontou o dedo indicador para um anjinho esperto, na multidão de guris. Logo, um raio de luz atingiu o escolhido e o levou para o Planeta Azul. Ele seria transformado em mensageiro da boa-nova na Terra, pois iria levar grande alegria ao lar que lhe fora designado. Papai terráqueo ficaria feliz ao saber que sua esposa grávida daria luz no Planeta que vagava, pelo infinito cosmo. Deus apontou para outro anjo, gracioso, serelepe, e o raio emanado do seu dedo (dedo de Deus) atingiu inesperadamente outro anjinho, que desapareceu instantaneamente, indo cumprir a missão na Terra: Levar felicidade a um lar. 

E Deus, tendo terminado as designações do dia, chamou um anjo arredio para uma conversa: 

–– Por que não queres ir para a Terra? O casal que te indiquei seria muito mais feliz porque adoram filhos, amam família numerosa.

O excelso Pai parecia zangado. 

–– Meu Criador e Senhor, perdão! perdão! Estou tão feliz no Céu que me assustei por ter de partir. Eu fiquei com medo, sou das estrelas, gosto de pular nas suas pontas, mergulhar no sol e cutucar as minhas irmãs na Ursa Maior. O que me esperava na Terra? Como seriam meus pais? Quais as dores que deveria suportar? Num momento de suprema dúvida, preferi ficar, mas seja feita Sua vontade, não a minha. 

E Deus decidiu:

–– Meus desígnios são inescrutáveis, sei de tudo, sou onipotente, onisciente e onipresente, poderia dizer-te o que te espera, aonde vais, enfim dar detalhes de sua vida futura. Bom será viajar sem saber o que vai acontecer, mesmo porque se soubesses, não haveria mérito na tua ida a Terra. Tu te esquivarias das dores previstas, das privações, e só procurarias gozar das coisas boas. Será preciso usufruir de bons e maus momentos para se ter alguma valia, alguma finalidade na tua viagem... e ainda te dou o livre-arbítrio: podes ficar ou ir.

E o anjinho respondeu:

–– Ó Supremo, ó Altíssimo Pai misericordioso, obedeço, hosanas! Mas, aprendi que és sumamente bom e não queres o sofrimento de teus filhos. A Terra é hostil. Desculpe-me, o terror está superando minhas forças. Prefiro mil vezes saltitar nas estrelas.

E Deus teve pena, o anjinho era muito belo e gracioso.

–– Meu filho, sou onisciente, aflições fustigarão tua alma, teu corpo, tua mente, porém, forçoso é que vá. Muitas alegrias o esperam também. Uma família te quer, vou te dar a oportunidade, a honra de ser nômade, tal qual meu filho, Jesus, foi. 

–– Gloriae in excelsis Deo! Pai, eu tenho amigos e o Vale de Lágrimas ou Terra de Expiação não me agrada. Não quero partir.

E o Senhor Deus, que tudo pode (até a queda de um fio de cabelo só se dá por sua vontade), olhou com interesse para a criatura mimosa, bela, suave, refletiu:

“Como sou o superlativo do bem, sumamente bom e justo sei o que espera a este magnífico espírito. Se concordar com ele, estarei reduzindo sua possibilidade de crescimento pessoal, de evolução, pois: A cada um segundo suas obras, seus méritos. Tenho dom da graça, amo a todos igualmente, mas este anjinho é muito mimoso e alegre, vou reexaminar este caso”. 

O Divino Pai dispensou a presença do adorável anjo e recolheu-se à Mansão Celestial, para verificar se havia jurisprudência. Cismou, meditou, pensou e chamou o anjo para uma conversa a sós. 

–– Meu filho é forçoso que vás àquela família que te espera e deseja há muito. Ela vai receber-te com muita alegria; eles gostam de filhos. E estão tentando e esperando há anos, minha decisão é irrevogável, é irretratável e é necessária para manter o equilíbrio cósmico. Por mim, A queda de uma pétala de rosa perturba a mais distante estrela.

–– Excelso e sábio Pai seja feita vossa vontade, não a minha. 

––Te concedo a graça de voltar rapidíssimo. Aquela família que te espera terá um menino lindo, fruto do amor e do meu amor pela humanidade. Ficarás apenas alguns instantes e retornarás a Mim. 

E o anjo desapareceu num raio de luz. Mas ele era mesmo gaiteiro, veio brincando, cantando, pelas estrelas, pulando aqui e acolá e chegou a ficar minutos dependurado na ponta da Lua-crescente. Depois, sobrevoou as nuvens, fez chover em alguns lugares e finalmente desceu num raio de prata. Nasceu...

Após o banho, em um tacho com água pura, vinho, flores, erva e perfumes, o menino foi mostrado à lua pela avó, que entoou: 

Lua, lua, luar / 

Toma teu andar /

Leva esta criança / 

E me ajude a criar /

Depois de criada / 

Torna a me dar.

Como convém a um anjinho nômade, Lucas foi embora. Partiu num raio de luar, direto a galopar o cavalo de São Jorge.


Conto dedicado a Lucas, meu neto, que nasceu e voltou para o colo de DEUS.


Asséde Paiva

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