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DEMONOLOGIA na visão dos ciganos

 DEMONOLOGIA na visão dos ciganos  Vamos abordar um assunto que até então estávamos deixando de fora, porque pensávamos que outros já o estudaram quase à exaustão. Porém, ao lermos estes tópicos no livro de Jean-Paul Clébert, in The Gypsies , constatamos que o tema citado era abordado antes, por outros, fracamente, superficialmente; decidimos por aqui, não nossa opinião, mas a de Clébert, porque ele é muito bom autor e deve ser considerado entre os melhores, em ciganologia. Ele, humildemente, pede licença, à página 145, para transcrever outro autor. Dr. Maxim Bing e nós fazemos o mesmo, portanto, o que se segue não é de nossa lavra, mas dos ciganólogos citados. Os erros e omissões ficam debitados a nossa dificuldade em traduzir castiçamente, para o português, a língua inglesa. Aos que quiserem conferir é só comprar o livro The Gypsies de Jean-Paul Clébert, Vista Books, London, 1973 e ler os títulos pertinentes. DEMONOLOGY (p. 145-147) Em tempos distantes, muito distantes, os ...

Apólogo: O Machado e o Cabo

Apólogo: O Machado e o Cabo

Asséde Paiva


A árvore quando está sendo cortada, observa, com tristeza que o Cabo é de madeira. (Provérbio Árabe)


Um Machado dormia placidamente num canto da cozinha, como convém aos bons Machados...

Ele estava só, pois ainda não lhe fora encravado um cabo que, aliás, estava ao seu lado, no mesmo canto, na mesma despensa da fazenda.

Quando Machado acordou, pôs-se a falar com Cabo em prosa surreal:

–– Amigo, Cabo, quando vão nos encravar? Nos fazer dois em um? 

–– Não sei, respondeu o Cabo, ainda não fui aparado e lixado, estou em estado bruto, aguardando o mestre lenhador, meu dono.

–– Ué! Vamos ser arma-ferramenta de mateiro!

–– Tudo diz que sim, afinal, Machado velho, está no terreiro e muito desgastado para o serviço.

–– Se recusássemos o trabalho sujo, muitas árvores seriam poupadas, eu, Cabo, prefiro ser preparado para enxada, ou foice, ou ancinho, pois curto cortar erva daninha.  Concorda??

–– Sim, mas o destino de Machado é desbastar mata virgem e no final, ser apenas um Machado velho, lascado, descartado, útil apenas para cortar achas para o fogão. Triste de mim, por que não sirvo pra outra coisa mais nobre? Eu sou o grande Collins, tenho nobreza...  e estou lascado, ferrado...

–– O que é isto?! Deixe o pessimismo de lado; no fundo, você é muito importante: afinal, é sobrenome de gente: Manoel Machado; José Machado e muitos outros, centenas de milhares de Machados. Há nosso escritor famoso e fundador da Academia Brasileira de Letras: Machado de Assis. Houve um político de nome Cristiano Machado. Já escreveram um livro A Saga dos Machados. Eu nunca vi alguém com sobrenome Cabo, por exemplo, Mário Cabo, João Cabo. O sobrenome, na verdade, apodo, só indica que servi às forças armadas, todavia, estou em todas as ferramentas do mundo: Cabo de pá, Cabo de enxada, Cabo de martelo, Cabo de fio etc.

–– Ah, você é parte importante no mundo dos homens: é Cabo de guerra, em ginástica, ou é vencedor em muitas batalhas; é Cabo de esquadra, na marinha; Cabo submarino (Cabograma) transmitindo informações pelo mundo afora; pode e dá nome a acidentes geográficos como: Cabo Horn; Cabo das Tormentas; depois Cabo da Boa Esperança; e pode ser referência mundial enquanto Cabo Canaveral, hoje Cabo Kennedy. Pode ser cidade: Cidade do Cabo; às vezes fazem o cabeamento; pena você não poder denominar as pessoas, só indicar hierarquia: Cabo Antônio João, Cabo Anselmo... Sem Cabo, eu, Machado, não cumpro a missão de cortar; sem você, sou zero. Cabo pode servir de arma para uma cacetada, quebrar os crânios, saltar miolos, como tacape...  Sim, senhor! Eu, Machado, pelo contrário, sou até motivo de deboche: Quando alguém se afoga no rio dizem: “Afundou como Machado sem Cabo”. Outras vezes, me lembram do provérbio: “Seja como sândalo que perfuma o Machado que o corta”. (Buda). Por que não dizem faca, foice, espada, serrote ou picareta? Havia que me acusar: machadada, só Machado dá, não é? Eu poderia sofismar: “Só faço o talho, quem derruba é Deus”. E não entendi o porquê do provérbio: “O risco que corre o pau, corre o Machado”. Talvez informe: “Se me atacar, vou reagir”. Pôr essas e muitas outras, sou um Machado sofredor, cacumbu, em solidão. Tenho compensações, diz a sabedoria popular: “Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o Machado”. “Um livro deve ser o Machado que quebra o mar gelado em nós”. O primeiro aforismo lembra-me a má fama, o segundo, me é agradável. Machado derruba, separa, corta, entalha, desbasta... Machado, no tarô cigano, indica desbravamento para novos tempos, novas deambulações. Houve uma novela em que a dona era chamada Maria Machadão. Vamos encerrar, porque estão vindo para nos encravar, uma floresta vai cair. Ai de mim ou de nós???!!!


Cada Machado tem o Cabo que merece, tal é a lei... / Ganhar na foice para perder no Machado. / Rosto talhado a Machado = feio.


E no Dicionário de Símbolos:

Machado. Ele fere e corta, vivo como o relâmpago, com ruído e, às vezes, soltando faíscas. Por isso, talvez, em todas as culturas, vem associado ao raio e, em consequência, à chuva. O que leva aos símbolos da fertilidade. Os exemplos e desenvolvimentos dessa linha simbólica fundamental são múltiplos. (Chevalier e Gheerbrant, 1998). 


E parelho com o Cabo, em poema anônimo:


O risco que corre o pau, corre o Machado

Não há o que temer

Aqueles que mandam matar também

Podem morrer!

Nós estamos em guerra

O lado de lá já decretou

Pois contratam pistoleiros

Pra matar trabalhador

Essa é a nossa proposta

E a gente vai ganhar!

Se levarem um daqui,

Surgem mil em seu lugar!

Eu já tenho um Machado

Falta só botar a cunha

E fazer igual ao gato:

Dar um tapa e esconder a unha!

O risco que corre o pau, corre o Machado

Não há o que temer

Aqueles que mandam matar também

Podem morrer!

(Bosquim)



Fragmento pertence a Machado como esses Foto: REPRODUÇÃO/AUSTRALIAN ARCHAEOLOGY ASSOCIATION

RIO - Um fragmento pequeno de pedra descoberto na Austrália é, segundo cientistas, o que restou do Machado mais antigo do mundo. A arma, que tem entre 46 mil e 49 mil anos.

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