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Destaques

DEMONOLOGIA na visão dos ciganos

 DEMONOLOGIA na visão dos ciganos  Vamos abordar um assunto que até então estávamos deixando de fora, porque pensávamos que outros já o estudaram quase à exaustão. Porém, ao lermos estes tópicos no livro de Jean-Paul Clébert, in The Gypsies , constatamos que o tema citado era abordado antes, por outros, fracamente, superficialmente; decidimos por aqui, não nossa opinião, mas a de Clébert, porque ele é muito bom autor e deve ser considerado entre os melhores, em ciganologia. Ele, humildemente, pede licença, à página 145, para transcrever outro autor. Dr. Maxim Bing e nós fazemos o mesmo, portanto, o que se segue não é de nossa lavra, mas dos ciganólogos citados. Os erros e omissões ficam debitados a nossa dificuldade em traduzir castiçamente, para o português, a língua inglesa. Aos que quiserem conferir é só comprar o livro The Gypsies de Jean-Paul Clébert, Vista Books, London, 1973 e ler os títulos pertinentes. DEMONOLOGY (p. 145-147) Em tempos distantes, muito distantes, os ...

DIA DE CÃO

 DIA DE CÃO

Asséde Paiva

Um garoto e um cão em uma praia

"Os cães são anjos com pelos."

(Gabriel Garcia Marques)


–– QUE DIA FEIO! “Este chuvisco não molha, só me deixa úmido”. Mulher, vou caminhar, ficarei sob marquises, ao atravessar uma rua não me molharei tanto.

–– Cuidado para não escorregar, há muitas pedras portuguesas soltas. A Prefeitura nos abandonou.

Eu morava à rua Ministro Viveiros de Castro, em Copacabana, Posto 2. Desci pela escada como início de meu exercício diário, levando Nick, um pequinês arretado Na portaria, cumprimentei “seu” Cícero, o encarregado dos porteiros, e desci os degraus que davam acesso à Rua. Bati um papo ligeiro com o português, dono da loja de materiais de construção, Sarrafo, falei com o jornaleiro na esquina da rua Duvivier com a Viveiros de Castro. A chuvinha aumentou de intensidade. Ao alcançar a rua que ligava a Duvivier com a Rodolfo Dantas: a rua Carvalho de Mendonça, notei que o dono de uma papelaria estava um irritado por causa do caminhão de lajotas que estava sendo descarregado, ao lado de sua loja, fazendo muita poeira. Não imiscuí no assunto, pois vi um bêbado deitado num banco de pedra, dormindo com a boca aberta, sem se incomodar com os respingos em sua boca. A seguir, minha atenção foi desviada para um barulho estranho do outro lado da rua: plaft, era como se um saco cheio d’água arrebentasse pelo chão. Infelizmente, não era. Na verdade, um corpo jazia inerte e sangue espalhava-se pelo chão de cimento. O homem pulara ou voara do último andar, o décimo. De um prédio. Um indivíduo, sem qualquer escrúpulo, correu para ele e começou revirar seus bolsos. “Abutre”, pensei. Como eu nada podia fazer, caminhei adiante, deixando o problema para o corpo de bombeiros e os policiais. Atravessei a rua N. S. de Copacabana e segui para a praça do Lido. Na praça, outro indivíduo dormia em pé, recostado apenas na antena de um automóvel. Na minha caminhada, o cão Nick, a meu lado, cheirava aqui e acolá; vez e outra levantava a pata traseira e urinava para marcar território. Ele era meu grande amigo no Bairro de Copacabana, tão cheio de acontecimentos bizarros. Pensei que o segundo dorminhoco ganhara daquele que eu vira deitado no banco de cimento, antes do ouvir o baque do suicida, na Carvalho de Mendonça. Segui em frente, atravessei a avenida Nossa Senhora de Copacabana, do passeio direito para o da esquerda. Na Avenida, encontrei Wilsão, antigo colega na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Ele me disse que estava aposentado e morando no Rio: “Até as pedras se encontram...”. Despedimo-nos após minutos de conversa e, em sequência, vi outro morador de rua deitado e dormindo na quina de um prédio, em ângulo de 90 graus, sendo que só a metade de seu corpo tinha apoio no degrau de cimento. Pensei: “Este é o vencedor dentre os três dorminhocos”. Acredito piamente que todos eles estavam drogados, porque é impossível dormir daquele modo. Atravessei a rua Princesa Isabel, na altura da Gustavo Sampaio, ao lado do Hotel Meridien. Não fiquei muito nessa rua que, aliás, era muito movimentada. Entrei na rua Roberto Dias Lopes, considerada tranquila. Ledo engano: A rua comunicava-se com a Favela do Leme, chamada Babilônia, reduto/guarida de político/a que subiu na carreira e foi eleito/a, em muitos mandatos. 

Eis que Nick e eu fomos sequestrados por meliantes/traficantes da “Comunidade” .... Mas ao ser elevado do chão, Nick sentindo que seu rosnado não fazia efeito, mordeu a mão do bandido, que deu um grito de dor soltando-o, em seguida, no que ele desapareceu ladeira abaixo. 

O meliante-chefe procedeu ao meu interrogatório:

–– “Mano” tu é X-91?

Respondi que não, mas ele insistiu:

–– Por que veio para cá?

–– Não vim por minha vontade...

Tabefe, plaft! plaft! plaft!

–– Ai! gritei de dor.

–– “Vamo mata o home”, chefe?! –– sugeriu um marginal ao dono do pedaço, o comandante da quadrilha

–– “Tá bem, põe ele” no micro-ondas2. 

Abriu a porta do barraco e, do outro lado, estavam Nick e muitos guardas.

Como Nick foi e voltou ao meu cativeiro? Ele atravessou ruas de grande movimento, chegou ao meu prédio, latiu e o porteiro o reconheceu, levando-o ao meu ap., onde minha mulher, assustada, chamou a polícia e Nick levou os policiais ao local do sequestro. Simples assim.

Os animais têm senso de orientação e sensibilidade inigualáveis. Temos muito a aprender com eles... 

O Nick foi um presente que dei ao meu filho Al***. Quem mais conviveu com ele e dele cuidou como animal de estimação, foi minha esposa. Ela conversava com ele como se filho fosse. Amávamos Nick como o quinto membro da família. Ele nos acompanhou quatorze anos. Viajávamos com ele, dormíamos com ele aos pés da nossa cama e o respeitávamos. Nick tinha personalidade. Penso que éramos mais dele do que ele nosso. Aceitava carinho quando queria, ou rosnava ameaçadoramente. Viajava com a gente para Minas/Juiz de Fora. Só faltava falar, tinha terror do som de foguetes e bombas. Como sofria nas festas juninas! Foram anos de muito companheirismo. Só para dar uma pálida ideia de sua sensibilidade, vou citar dois fatos: Morávamos no quarto andar de um prédio, em rua movimentada. Quando nosso filho chegava de automóvel, Nick, com supersentido que tinha, se animava, levantava as orelhas, ia para a porta da sala. Como ele adivinhava? Como distinguia entre o barulho de dezenas de carros, ônibus. caminhões e gente gritando, o som do velho Opala de meu filho? Certa feita, minha mulher estava cuidando das unhas dele. Nick, começou a rosnar, certamente, avisando que não estava gostando. Ela largou sua pata e abaixou a cabeça, fingindo chorar. Ele docilmente estendeu-lhe a pata. Quando íamos viajar e decidíamos levá-lo, ele era o primeiro a sair na porta do Ap., primeiro a entrar no elevador, o primeiro a entrar no carro.

Inesquecível Nick...

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