RITO DE PASSAGEM
RITO DE PASSAGEM
PARTIDA E... CHEGADA
Quando observamos, da praia, um veleiro afastar-se da costa, navegando, mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. O barco, impulsionado pela força os ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e imprecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamara: “Já se foi! Terá sumido? Evaporado”?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha antes, quando estava perto de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não podemos mais vê-lo. Mas ele continua o mesmo; e talvez no exato momento em que alguém diz “Já se foi!”, haverá outras vozes mais além a afirmar:
“La vem o veleiro!”.
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos:
“Já se foi!”.
Terá sumido? Evaporado? Não, com certeza. Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que no mesmo instante em que dizemos “Já foi!”, no além, outro alguém dirá: “Já está chegando!”.
A alma chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a sua vida. Neste momento [de transição], está em delicada fase de desprendimento do corpo material e de transformação da sua existência. Procuremos oferecer o que realmente a alma/espírito precisa agora: respeito a sua memória, orações, pensamentos carinhosos em favor da paz e amparo no mundo espiritual.
Os chamados mortos são apenas ausentes. Também eles pensam e lutam, sentem e choram. Não morreram: partiram antes.
As nossas preces de amor representam acordes de esperança e devotamento despertando os “idos(1)” para visões mais altas da vida.
Na vida, cada um leva a sua carga de vícios, virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva desfazer-se do que julgar desnecessário.
Morrer é apenas transportar-se. É rever amigos, encontrar inimigos, acertar contas, arrepender-se, aprisionar-se ou libertar-se.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser partida, para outros é a chegada.
Um dia, todos nós partiremos como seres imortais que somos ao encontro D’AQUELE que nos criou.
Contemplemos os céus em que mundos inumeráveis nos falam da união sem adeus e ouvirás voz dos que nos antecederam no próprio coração, a dizer-nos que não caminharam na direção da noite, mas, sim, ao encontro de um novo despertar.
Não permitamos, assim, que a saudade se converta em motivo de angústia e opressão. Usemos os filtros da confiança e da fé, dulcificando-os com a compreensão de que as ligações afetivas não se encerram na sepultura. Somente o amor verdadeiro inspira ânimo e confiança alegria e esperança. O amor, essência da vida, estende-se, indestrutível, às moradas do infinito, fonte sublime que sustenta indelével, a comunhão entre a Terra e o Céu.
Os que se foram não morreram: estão do outro lado do caminho...
Asséde Paiva
(adaptado do original de Flávio Nazareth Viana)
VR 23/3/2018

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